Este curso nasceu de um trabalho inédito do maestro Ricardo Rocha, que teve por objeto de pesquisa e investigação, ao longo de 25 anos, a análise detalhada dos 37 movimentos que formam a coleção das Nove Sinfonias de Beethoven:
“Este curso cumpre a missão de dar visibilidade à única arte cuja forma é invisível, que é a Música. Ele apresenta um método, que chamei de “Análise Estrutural”, capaz de oferecer uma compreensão da linguagem e do discurso musical não só dessas obras, mas da música de concerto em geral” - reflete Rocha.
O conjunto destas sinfonias constitui a coluna vertebral da história da Música e expressam, de maneira titânica, as profundas mudanças que transformariam os valores e a visão de mundo da civilização ocidental. Elas espelham esteticamente a passagem violenta da perenidade do Classicismo ao furacão do Romantismo; o embate entre a pretensão iluminista, que buscou estabelecer a Razão como farol e guia para a Humanidade, e a revolta da Emoção em prol da liberdade dos sentimentos e sua expressão para além das amarras e da frieza da racionalidade.
O CONTEXTO DAS OBRAS
O palco dessa luta foi a Revolução Francesa, representando de um lado, o Humanismo como religião, seu culto à personalidade e a declaração da “morte de Deus”, o que fez a esperança de salvação ser colocada no próprio Homem e seus ‘heróis’, considerados ‘superiores’, por sua vontade e crença no progresso da ciência como solução para os problemas da Humanidade; - de outro, não existindo mais um ‘deus’ criador exercendo a sua vontade no favorecimento ou desfavorecimento daquilo é agradável ou não à sua Criação, surge a noção do “Destino” como uma instância sobrenatural comuma “força indômita”, implacável e capaz de dobrar a vontade humana, opondo-se aos seus ideais e impedindo a consecução de sua desejada e pretensa auto suficiência.
O Iluminismo e a Revolução Francesa: o ‘Zeitgeist’
ver legenda 1
ver legenda 2
O corolário dessa revolução foi a rolagem das mais de 100 mil cabeças decapitadas, incluídas as dos próprios revolucionários e seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, confrontados uma década depois com a realidade da espada tirânica de Napoleão, que se autodeclararia Imperador, fundando uma dinastia monárquica própria, para desespero de Beethoven, que rasgaria a sua homenagem a ele em forma de dedicatória no cabeçalho da sua Terceira Sinfonia, por tê-lo considerá-lo um herói.
Esse é o momento da profunda transformação de nosso compositor, que, de imediato escreve uma marcha fúnebre como segundo movimento, agora dedicado “à memória de um herói morto”. Esta sua terceira sinfonia, que será chamada de ‘Eroica’, retrata a ponte que levará a história da Música ao Romantismo europeu do século XIX, entre a Revolução Francesa e a recém-nascida Revolução Industrial.
Beethoven, criador da chamada “música confessional” e antena sensível da convulsão generalizada de sua geração, escreveu a sua nona e última sinfonia, a “Coral”, como uma carta à posteridade, declarando, na introdução ao último movimento, que não queria mais os “outros tons”, referindo-se aos três movimentos anteriores que exprimiam o que ele viveu. Aí, como numa declaração polifônica das diversas vozes da Humanidade a plenos pulmões, proclama as palavras do poema de Schiller, que apresenta a Alegria como ”uma centelha divina”, afirmando que “há um Criador e que devemos procurá-lo para além da abóboda celeste”.
legenda 3
O MÉTODO
No contexto dessa realidade e na busca de um caminho para o entendimento da visão de mundo que Beethoven tinha de seu turbulento entorno, expresso especialmente em suas sinfonias, o maestro Ricardo Rocha criou e desenvolveu um método que chamou de “Análise Estrutural”, cuja técnica mostrou-se hábil não apenas para ser ministrado a músicos profissionais, estudantes e professores de Composição e Regência, mas também, sob uma nova abordagem, tornar-se uma ferramenta para leigos ganharem igualmente uma audição inteligente, capaz de fazê-los compreender a linguagem e o discurso da música de concerto, instrumental e vocal.
Assim, o entendimento das Nove Sinfonias de Beethoven abre uma um portal, uma janela para a compreensão auditiva de outras Sinfonias e todas as demais formas musicais, como a Suíte, a Abertura, o Concerto Solista, o Poema Sinfônico etc, por proporcionar a identificação das principais ideias musicais (temas), eventos - como ligações e transições, episódios, divertimentos e, por fim, as grandes seções.
Isso porque, através desse método, cada um dos movimentos que compõem a coleção encontra-se como que "mapeado" e representado "topograficamente" em pranchas a cores, num método original desenvolvido em forma de pranchas gráficas, reveladoras dos padrões e da maneira com que o compositor organizou seus principais temas e ideias. Também por isso, a apresentação de cada sinfonia ao longo do curso será sempre iniciada com a contextualização da época em que a mesma foi composta e estreada, ou seja, do cenário cultural, político, social, econômico e filosófico em que nasceu. Foi dessa matéria-prima que veio à luz, sob o filtro estético e musical desse compositor gigante, a colossal cordilheira de suas sinfonias.
* Legenda 1: A Liberdade, com o cetro da Razão, lança raios sobre a ignorância e o Fanatismo
* Legenda 2: Eugène Delacroix - A Liberdade guiando o povo
* Legenda3: Beethoven, do escultor Ernst Julius Hähnel, 1845, alemão de Dresden em Bonn
Ricardo Rocha – foto: Meg Lopes
MAESTRO RICARDO ROCHA
Ricardo Rocha é atualmente um dos regentes mais renomados do Brasil. Pós-graduado pela Escola Superior de Música da Universidade de Karlsruhe como Kapellmeister (Maestro de ópera e concertos sinfônicos), o mais alto título em Regência em países de língua alemã, é também mestre em Regência pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Na Alemanha, ao longo de 11 anos, criou o ciclo “Brasilianische Musik im Konzert” para a difusão da música de concerto brasileira, à frente de orquestras como a Sinfônica de Bamberg, as Filarmônicas da Turíngia e de Südwestfallen e a Sinfônica de Baden-Baden.
No Brasil, Rocha foi regente titular da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso (1992-94) e da Orquestra Sinfônica e Coro Estável da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (1994-96), onde também foi professor de Regência. Como convidado, regeu grandes orquestras brasileiras como a OSB, OSTMSP, OSMG, OPES, OSN-UFF, OSBJ e a OJB -Orquestra Jovem do Brasil, com a qual executou a Nona Sinfonia de Beethoven pelos 20 anos da Queda do Muro de Berlim.
É autor dos livros “Regência, uma arte complexa ” (2004) e o atlas “As Nove Sinfonias de Beethoven – uma Análise Estrutural” (2013)
Em meio à pandemia do Covid 19 foi contemplado por diferentes editais musicais, como Itaú Cultural e Lei Aldir Blanc, Secretaria Estadual de Cultura RJ, através da qual publicou três vídeos com reflexões sobre Cultura, Arte e Música.
Rocha é tambémComendadorpelo Poder Judiciário (Ordem São José Operário do Mérito Judiciário do Trabalho, TRT da 23ª. Região) desde 1994.
SERVIÇO
O CICLO DAS NOVE SINFONIAS de BEETHOVEN, com o maestro Ricardo Rocha
Local: Baukurs Botafogo, Rua Goethe, nº 15.
Aulas: até 18 de agosto de 2023, uma sinfonia por semana, às sextas;
Horários:
*Sinfonias 1, 3 e 9 : das 19h às 21h30
-Sinfonia 1, 23/6: com preleção sobre a origem e evolução do gênero;
-Sinfonia 3, 7/7: com preleção sobre o contexto político e o Romantismo;
-Sinfonia 9, 18/8: com preleção sobre a história e construção desta sinfonia como Obra-testamento confessional e carta à posteridade;
Escritora, autora da duologia "A Princesa e o Viking" disponível na Amazon. Advogada e designer de moda. Desde 2008 é blogueira. A longa trajetória já teve diversas fases, iniciando como Fritando Ovo e desde 2018 rebatizado como Leoa Ruiva, agora o blog atinge maturidade profissional, com conteúdo inovador e diferenciado. Bem vindos!
0 comentários
Deixe sua opinião sobre o post: Não esqueça de curtir e compartilhar