No Mirante Paulista, de Catê Poli e João Jadão para a CASACOR São Paulo, peças de design orgânico integram o jardim fluído e surpreendente
maio 31, 2023
Pensado com um grande living ao ar livre, o jardim que marca mais uma participação da dupla de paisagistas, vai muito além da seleção bem orquestrada de espécies nativas e exóticas. A ambientação tem todos os ingredientes para se tornar um ponto de descanso, tranquilidade e bem-estar como um verdadeiro abraço em plena Paulista
O projeto de Catê Poli e João Jadão para a CASACOR São Paulo vence vários desafios, como transformar uma área estreita, sinuosa e com elementos tombados pelo patrimônio num jardim tropical dinâmico, convidativo e, ao mesmo tempo, bucólico. Para isso, o Mirante Paulista combina espécies com folhas em tons de verdes variados, dispostas em vasos de cerâmica. Móveis de fibras e com tecidos de toque gostoso se misturam aos tapetes redondos sustentáveis nos lounges relaxantes e acolhedores | Foto: Evelyn Müller
Um jardim lúdico, que enaltece e acompanha os contornos da arquitetura modernista de um dos prédios mais icônicos do país, o Conjunto Nacional, e que, através das formas orgânicas do mobiliário e do paisagismo legitimamente brasileiro, se torna um grande living a céu aberto. Esse é o DNA do Mirante Paulista, projeto assinado pelos paisagistas Catê Poli e João Jadão para a 36ª Edição da CASACOR São Paulo.
O ambiente é inspirado na natureza, na combinação de plantas brasileiras e exóticas, nas curvas do corpo humano e no desejo de conectar-se com a essência interior dos visitantes, como um verdadeiro espaço de receber. O moodboard com tons terrosos e verdes denotam o gradiente de cores que não se repetem. O espaço de 150 m² na área externa, projetado em uma grande varanda de estar, permite uma pausa na correria. “A sensação de acolher-se junto à natureza é revigorante”, explica Catê Poli.
Na distribuição de um paisagismo muito equilibrado, uma completa mudança no visual árido da área externa do Conjunto Nacional. Dispostas em vasos cerâmicos de diferentes tamanhos e acabamentos (Organne), as espécies selecionadas pela dupla Catê Poli e João Jadão foram Palmeira traquicarpo, Filodendro-roxo, jabuticabeira e samambaias | Foto: Evelyn Müller
O conjunto de atributos do Mirante Paulista enaltece a temática da mostra para 2023: o jardim arejado e acolhedor entrega a sensação plena de um refúgio, de um porto-seguro combinado com o senso de pertencimento, conexão e a memória afetiva que estimula uma sensação de tranquilidade, paz e bem-viver. Ao brincarem com as formas e a disposição das espécies, cultivadas em vasos vietnamitas, o resultado ressoa muito distante de um jardim óbvio. Sem a intervenção de obras – uma vez que o Conjunto Nacional é tombado como patrimônio histórico –, o layout da área acompanha a sinuosidade do edifício. Portanto, as espécies mais altas, como as Palmeiras traquicarpos, possibilitaram recobrir e colocar em segundo plano paredões e esquadrias brancas. “Em nosso ambiente, as plantas com vários tamanhos de folhas e tons de verde é o que torna as composições ainda mais especiais", afirma João Jadão.
Entre os pequenos lounges que formam o generoso living ao ar livre, Catê e João enaltecem a riqueza da minuciosa seleção de plantas nativas, como jabuticabeira, samambaia, tostão, inhame preto brilhante e guaimbê, entre outras, e exóticas, como ripsális, palmeira fênix, etc. “Acreditamos que o mix de exóticas e nativas resulta na biodiversidade do jardim, que além de belo, deve ser funcional, e contar com os melhores tipos para cada situação, seja de uma origem ou de outra”, argumenta Catê. Com a variação de tamanhos das espécies e a abundante iluminação natural, o jardim dispõe de áreas de sombra e uma atmosfera mais fresca e amena, ideal para aproveitar nos diferentes momentos do dia.
No Mirante Paulista, o jardim é agraciado pelo movimento do sol, que de acordo com o horário, entrega diversas cenas compostas pelos jogos de luzes e sombras. Bem iluminada (luminárias da Interlight e instalação da Ipel), a ambientação é um convite para sentar-se, conversar, ler, conversar ou simplesmente olhar ao fundo a Av. Paulista| Fotos: Evelyn Müller
Única frutífera entre as espécies, a jabuticabeira não é novidade nas participações de Catê Poli e João Jadão na CASACOR São Paulo. O apreço de ambos pela espécie tem seus motivos: além de ser nativa da Mata Atlântica, a planta desperta as mais tenras memórias afetivas, de quando a doce fruta de casca roxa e polpa branca era degustada diretamente dos pés acessados nos quintais de outrora. “É fato que ela nos traz incríveis recordações”, preconiza João Jadão, que também destaca sua resistência e a adaptabilidade para ser cultivada tanto no solo, como em vasos, compondo muito bem o paisagismo de áreas externas e de varandas de apartamento.
Na leveza das curvas que se manifestam como uma ode ao paisagismo de um jardim dinâmico e rico, as floreiras de metal, dispostas do lado esquerdo, se tornaram um recurso de anteparo e privacidade ao espaço.
Em diferentes pontos do jardim, as vistosas jabuticabeiras foram plantadas no Mirante Paulista em vasos vietnamitas (Organne). Para configurar a sequência do jardim, as linhas retas das floreiras metálicas (Firgal), reaproveitadas da última edição da CASACOR, se revelam como um leve contraponto no layout idealizado por Catê Poli e João Jadão | Fotos: Evelyn Müller
Para o mobiliário, Catê Poli e João Jadão destacam as criações brasileiras, como o banco Forcado, do designer Pedro Luna (Molu Design). Em uma referência à sustentabilidade, o jardim prioriza os produtos de madeira certificada, como o premiado banco Tric, de Ricardo Afiune (Araucari Arte & Design), sobre o tapete redondo feito a mão com fios de PVC (Ariadne | Via Star). Para disfarçar o paredão, as cúpulas de luminárias em fibra (Biasá) se tornaram adornos incomuns | Fotos: Evelyn Müller
No Mirante Paulista, o mobiliário é convidativo e evoca o design genuíno de peças acolhedoras e legitimamente brasileiras. Para admirar a abundância de espécies no living outdoor, o estilo contemporâneo dá forma aos sofás e as pequenas poltronas orgânicas, assim como as poltronas de rattan. Para circundar em cada uma das salas de estar, o piso original do Conjunto Nacional foi coberto por tapetes artesanais trançados a mão no tear com fios de PVC. Completando o design autoral, o banco Forcado, do designer Pedro Luna, ressignifica a ferramenta de jardinagem.
Vários cantos de bem-estar, privativos e, ao mesmo tempo, integrados, compõem o grande living. Com tons terrosos, os sofás com tecido bouclé (Hio Decor) são próprios para áreas externas e proporcionam uma renovação no ambiente pela simetria, casando-se com o jardim fluído| Foto: Evelyn Müller
O Mirante Paulista, de Catê Poli e João Jadão, exalta a amizade e o profissionalismo dos paisagistas, que participam pela quinta vez juntos da CASACOR São Paulo | Foto: Evelyn Müller
36ª CASACOR SÃO PAULO
30 de maio a 06 de agosto de 2023
Conjunto Nacional - Avenida Paulista, 2073 – São Paulo
Arquiteta e urbanista de formação e paisagista desde seu primeiro estágio em 1990, Catê Poli atuou em diversos escritórios de São Paulo até se lançar em trabalho solo em 1998. No escritório Catê Poli Paisagismo, elabora projetos de paisagismo e arquitetura de exteriores – desde pequenas casas até grandes fazendas e haras. Esteve presente nas edições 2007, 2008, 2011, 2018, 2019, 2021 e 2022 da CASACOR São Paulo, além da CASACOR Rio de Janeiro em 2022. Catê é atualmente colunista do site da revista Casa e Jardim e do portal Paisagismo em Foco. Projetos internacionais na Angola, Australia e foi colunistas das Revistas Casa e Jardim e Paisagismo em Foco.
Paisagista especializado em arquitetura da paisagem, João Jadão criou em 1987 a empresa Planos e Plantas. Tem expertise tanto na área de projetos quanto em execução de jardins de pequenos a grandes portes. Além de trazer no currículo diversas premiações nacionais, o escritório, em 2015 e 2016, assinou projetos vencedores internacionalmente, em Portugal e Espanha. João Jadão participou da CASACOR São Paulo em 2015, 2018, 2019, 2021 e 2022, além da CASACOR Mato Grosso, em 2010. Atualmente, responde como vice-presidente da Associação Nacional de Paisagismo (ANP).
Escritora, autora da duologia "A Princesa e o Viking" disponível na Amazon. Advogada e designer de moda. Desde 2008 é blogueira. A longa trajetória já teve diversas fases, iniciando como Fritando Ovo e desde 2018 rebatizado como Leoa Ruiva, agora o blog atinge maturidade profissional, com conteúdo inovador e diferenciado. Bem vindos!
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