Cultos africanos são alvos constantes de ataques e intolerância religiosa
maio 31, 2023A intolerância religiosa contra as matrizes africanas foi um dos assuntos mais comentados nos últimos meses em virtude de quatro ocasiões: participantes do BBB23 demonizaram a religião de Fred Nicácio e rezaram na tentativa de combatê-la. Uma mulher, a sogra dela e as filhas, de 8 e 13 anos, foram impedidas de entrar em um carro de aplicativo por estarem vestidas com trajes religiosos, o caso aconteceu no centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. As declarações preconceituosas proferidas pelo Coach Paulo Vieira que chegou a se manifestar negando suas falas. E, mais atual, a prisão de um homem no Distrito Federal que durante um ritual macabro matou, carbonizou e bebeu sangue da vítima de 33 anos. Este último caso fez com que adeptos da umbanda e candomblé fossem duramente atacados.
Segundo Pai Paulo de Ayrá, líder religioso e espiritual que atua na preservação das tradições religiosas afro-brasileiras Candomblé e Umbanda, sofreu seus primeiros ataques como pai de santo no seio familiar. “Minha religião por ser afro, muitas vezes é mal-vista. É uma pena que nossos maiores perseguidores são os que mais se dizem seguidores de Jesus. Hoje, os terreiros sofrem por conta de vizinhos intolerantes, falta de políticas públicas e representação política”, explica.
Pai Paulo se diz surpreso com as declarações feitas pelo Coach Paulo Vieira, além de ser admirador do trabalho de Paulo, foi aluno do Método CIS. “Admirei-me com a informação que ele demonstrou intolerância religiosa com os praticantes das religiões de matrizes afro-brasileiras. O que é uma pena, pois o próprio Jesus ensina a amar as pessoas assim como ele nos amou, ou seja, para mim, se Jesus viesse nos dias de hoje, ele abraçaria a todos sem ver diferenças”, destaca.
Já em relação aos rituais de sangue, o líder espiritual pontua que se buscarem um pouco de conhecimento sobre a umbanda, verão que é uma religião de amor e caridade. “Nossos princípios enquanto sacerdotes de umbanda remetem a humildade, respeito e amor ao próximo. Infelizmente falsos sacerdotes sujam o nome de nossa amada religião divulgando trabalhos de destruição, matança de animais e pessoas para rituais totalmente fora de contexto da nossa religião e muitas pessoas associam e generalizam esses rituais com religiões afro-brasileiras”, completa.
De acordo com o Pai de Santo Paulo de Ayrá, o reconhecimento e endereçamento do tema é de extrema relevância no cenário atual, já que o Brasil, apesar da quantidade de cidadãos adeptos a muitas religiões, enfrenta desafios relacionados à intolerância religiosa e ao preconceito sendo importante não só a promoção à liberdade, como também o combate à intolerância. “É importante pontuar e esclarecer que existe lei punitiva e que se configura em crime qualquer discriminação às matrizes africanas ou religiões. A lei existe, mas, infelizmente, a impunidade propiciada pela nossa justiça ainda deixa impune esses criminosos”, pontua.
Pai Paulo de Ayrá é bastante respeitado no meio das religiões que cultua e mantém o maior terreiro de umbanda do Brasil no município do Eusébio, onde em suas reuniões chegam mais de 500 pessoas buscando ajuda espiritual.
O líder espiritual afirma que essas condutas de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de religião devem ser denunciadas, já que a violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas estão sujeitas às penas definidas na lei. “Se nos calarmos sempre seremos vítimas. Temos que ser resistências e buscar nossos direitos. Eu acredito que estamos entrando em uma nova era de amadurecimento espiritual, onde todos vão entender que Deus é amor e que onde se fala a palavra de Deus lá ele estará” - completa.
Para Paulo de Ayrá, a comunidade de terreiro deve se unir para buscar políticas sociais de inclusão e cobrar para a lei ser aplicada. “As pessoas devem buscar sentir mais Jesus e tudo que ele ensinou. Ele deu a vida pelo pecador e não pelos santos. Jesus é amor e só sobre o amor que ele nos ensinou. Falta muita informação e os meios de comunicação devem dar sempre voz as minorias”, conclui
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