Itamar Brant lança o álbum “Samba Trem”, uma leitura mineira sobre o gênero mais popular do país

novembro 15, 2022

Com dez faixas, sendo seis autorais, disco tem participações luxuosas de Toninho Horta, Maria Alcina, Thiago Delegado e outros nomes de peso da música popular; lançamento virtual acontece no dia 18/11, com pocket show em BH no dia 20/11


Embalados por violão, cavaquinho e percussão, sambas geralmente versam sobre amor, desilusão, cotidianos marginalizados, saudades incessantes. Mas também podem cantar sobre as queimadas na Amazônia, o extremismo dos preconceitos deploráveis e a riqueza filosófica de procurar-se sem saber ao certo quem se é. Por todos esses caminhos infindáveis, entre a beleza da tradição e as urgências da contemporaneidade, o músico belo-horizontino Itamar Brant apresenta sua abrangente leitura do samba no requintado disco “Samba Trem”, o quarto da carreira, lançado nesta sexta-feira (18/11), nas principais plataformas digitais — e em formato especial de vinil. Como prévia do álbum, Brant faz um pocket show com alguns sambas novos, no Bar Museu Clube da Esquina, neste domingo (20/11), com entrada gratuita e venda do álbum físico.

 

 Ouça o álbum “Samba Trem” neste link

 

“Mais do que uma identidade nacional, o samba é a expressão máxima do Brasil como cultura e arte. Posso considerar o disco uma homenagem ao samba e à sua imensidão. Cabe tudo no samba, o rock, a bossa, o jazz, o xote. Eu sempre fui ligado ao samba, ouvindo, tocando, fazendo rodas de samba com os amigos. Com esse disco, eu quis apresentar a diversidade do samba que está na minha vida desde sempre”, justifica Brant.

 

Para além de uma obra essencialmente planejada, “Samba Trem” foi concebido na corda bamba da pandemia, estreitando conexões à distância, entre receios e afetos cultivados obrigatoriamente em casa. “Comecei compondo ao violão, em casa, por causa da angústia da pandemia. E percebi que muitos músicos estavam na mesma situação: angustiados, sem trabalhar, sem saber como seria o futuro. Foi assim que fui fazendo convites. O Marcelo Costa, por exemplo, é um percussionista requisitado, toca com Marisa Monte e Gilberto Gil, e ele chegou a comentar nas redes sociais que estava parado na pandemia. Ficou super animado com o convite”, completa Brant.

 

Os sambas nasceram em 2020 e acabaram de ser gravados no começo deste ano, com sessões no Studio Na Trilha, em Belo Horizonte, e várias contribuições remotas, sob orientação de Brant e Dhiego Gusmão, que dividem a produção executiva do disco. Aos poucos, as músicas ganharam corpo instrumental com o talento de mais de uma dúzia de músicos. Entre eles, o toque precioso do violão de nylon de Toninho Horta na versão de “Nada de Rock Rock”, de autoria de Heitor dos Prazeres, pioneiro na criação das escolas de samba no país; o violão de sete cordas de Thiago Delegado em “Convite Nefasto”, de Brant; e a flauta do mestre Chico Amaral em “Ave de Ressaca”, samba de Brant em parceria com Renato Silveira. O disco também tem a diamantada participação da cantora Maria Alcina, eternizada pela interpretação dos clássicos “Fio Maravilha” e “Kid Cavaquinho”.

 

Alcina interpreta o samba “Cadê Meu Tamborim”, composição de Brant inspirada na levada do inconfundível violão de João Bosco, e abrilhantada por um expansivo arranjo de sopros de William Alves. “Antes da pandemia, fui ver um show da Maria Alcina em Belo Horizonte. Por coincidência, encontrei com ela saindo do teatro, já na rua, e fiz uma primeira abordagem. Na pandemia, soube que ela passou uma temporada em Cataguases, onde tem família, e fiz o convite para ela gravar esse samba, e deu muito certo. É uma honra para mim”, conta Brant.

 

Diversidade

 

Produzido a partir da espinha dorsal do violão, “Samba Trem” abre as possibilidades de múltiplas nuances instrumentais a partir de harmonias bem mineiras, em arranjos sofisticados e ao mesmo tempo populares, que abraçam distintas influências dentro da mesma caixinha de fósforo agitada do samba: desde a sutileza da composição quase inteiramente conduzida pela percussão de Marcos Suzano e o clarinete de Sérgio Danilo, em “Samba de Fato”, de Pixinguinha, até as marcantes guitarras distorcidas na versão de “Jorge Maravilha”, de Chico Buarque. A guitarra bem azeitada de Fabinho Gonçalves, aliás, é elemento chave do álbum, e flerta com o jazz nos sambas autorais “Caminho do Samba”, com atmosfera de gafieira, e “Res (O Ser Ao Inverso)”, abarcada por um afiado trombone de Victtor Santos e uma profunda reflexão existencial no discurso. “Em cada música, eu imaginava algo que tivesse a ver com a ideia que eu tinha daquela canção. Assim, fui sugerindo o trombone, o clarinete, as guitarras, e tudo foi se encaixando numa sonoridade que é bem mineira e faz jus à ideia de ‘Samba Trem’, que dá nome ao disco”, diz Brant.

 

Toda a diversidade sonora do álbum converge com as narrativas expostas nos sambas, cantadas pela voz macia de Itamar Brant, embebido por nítida influência da bossa nova, mas com um discurso social altamente crítico. Para além das referências diretas ao samba, versando sobre o cotidiano bamba, o álbum insere esse gênero brasileiríssimo em problemáticas nacionais modernas. Em “Convite Nefasto”, há uma reflexão sobre as queimadas ilegais na Amazônia, combate aos comportamentos fascistas e aos delírios sobre uma inexistente Terra plana. Já no samba de roda “Trate o Seu Preconceito”, Brant aborda diretamente a tríade sexo, cor e religião, em um apelo de combate à intolerância. Até na escolha das releituras, como “Triste Cuíca”, versão pouco reverberada da composição de Noel Rosa e Hervê Cordovil, há uma ação política consciente do artista.

 

“O samba ‘Triste Cuíca’, que foi criado em Belo Horizonte nos anos 1930, em uma das temporadas que Noel passou aqui, fazendo tratamento de saúde na conhecida Cidade Jardim, como era chamada a capital naquele tempo, fala de um cara que matou o outro por ciúme e a letra deixa explícito que as pessoas ficaram caladas, ou seja, se abstiveram de intervir. Como dizia Tom Zé, ir na padaria é um ato político. Então, tudo é política. Por isso, em toda a minha carreira, sempre me posicionei porque não consigo me conceber como artista sem tomar posição sobre a vida, sobre a sociedade e o mundo em que vivemos”, analisa Brant.

 

Sobre Itamar Brant

 

Nascido em Belo Horizonte, Itamar Brant é cantor, compositor e multi-instrumentista com mais de três décadas de carreira. Nos anos 1980, estudou teoria musical e composição na Escola Música de Minas, espaço idealizado por Milton Nascimento, Cláudio Rocha, Márcio Ferreira e Wagner Tiso, e na Escola Acorde. Continuou seus estudos em Paris, na Escola Ephen, nos anos 1990, quando teve aulas de canto com Pedro Paulo Neves, irmão de Oscar Castro Neves, considerado um dos pilares da bossa nova, ao lado de Tom Jobim e João Gilberto. De volta ao Brasil, em 1994, Itamar Brant passou a se apresentar em bares e casas de shows de Belo Horizonte.

 

Em 2004, lança seu primeiro álbum, “Perímetro Cefálico”, com 11 músicas de sua autoria, sendo três delas com o parceiro Renato Diniz, e uma regravação de um antigo samba de Kid Pepe (parceiro de Noel Rosa) e Zé Pretinho, “Tenho Raiva de Quem Sabe”. Seu segundo álbum, “A Superfície da Palavra” (2013), condensa uma rica mistura de ritmos, como o xote, o samba, a bossa, o jazz, o blues e o pop. Por causa da diversidade, o álbum teve boa repercussão em países como Suécia, EUA, Japão e Porto Rico. São 11 novas composições e uma versão de Augusto de Campos e Rogério Duarte para um blues de Billie Holiday, “Mamãe Merece”. Com produção musical de Robertinho Brant, Tattá Spalla e do próprio Itamar, o disco conta as participações de Toninho Horta, Chico Amaral, Gabriel Guedes, Célio Balona, do grupo de percussão “borTam”, do violinista austríaco Rudi Berger, do grupo vocal “Meninas de Sinhá” e das cantoras Carla Villar, Marina Machado e da carioca Silvia Machete, com quem Itamar divide os vocais na faixa título do trabalho.

 

No terceiro disco, “Venerando Pagã” (2017), Brant apresenta o seu trabalho mais irreverente, indo do rock ao techno, passando pelo xote e o reggae, tudo com bastante personalidade. São 14 músicas com roupagem pop, nas quais o artista está novamente acompanhado de nomes de peso da cena mineira, como o parceiro de longa data Toninho Horta, além de Carla Vittar, Pedro Morais, Célio Balona, Carlos Carega e Dhiego Gusmão.


SERVIÇO 

Pocket show de lançamento do álbum “Samba Trem”, de Itamar Brant

Quando. Domingo, 20/11, às 17h

Onde. Bar Museu Clube da Esquina (Rua Paraisópolis, 738 - Santa Tereza)

Quanto. Entrada gratuita


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