De volta após 15 anos, Terminal Guadalupe amplia horizontes com “Agora e Sempre”

setembro 06, 2022

Novo disco, também classificado como uma 'crônica sobre tragédia anunciada', é o sucessor do aclamado “A Marcha dos Invisíveis” (2007), que fez a banda rodar e ser comentada em todo o país

Capa por Pietro Domiciano baixa

Capa: Pietro Domiciano


“Agora e Sempre” (Loop Discos, 2022) é o novo álbum da banda Terminal Guadalupe, mas parece um retrato em branco e preto do Brasil: denso, sombrio, algo melancólico, mas com um fio de esperança. No país que definha sem governo em meio à maior crise sanitária, política e econômica de sua história, o disco é um documento. Rima resiliência com resistência.

Ouça 'Agora e Sempre' aqui: https://tratore.ffm.to/agoraesempre.

O álbum chega às plataformas digitais em 5 de setembro, data do 53º aniversário do Ato Institucional nº 13, o AI-13. Foi o mecanismo pelo qual a ditadura militar endureceu o regime e passou a expulsar “legalmente” qualquer cidadão tido como “inconveniente”.

É o quarto disco de estúdio do Terminal Guadalupe, o primeiro desde “A Marcha dos Invisíveis” (Independente, 2007), aclamado pela crítica e nos festivais da época.

A meio mundo de distância, os integrantes do Terminal Guadalupe juntaram sons sintéticos com timbres acústicos processados, em mergulho nas águas profundas da música eletrônica dos anos 1970, com subidas pontuais à superfície das paradas das playlists atuais, onde o ar fresco deu um banho de loja no som da banda, outrora identificada pelas guitarras.

Em Portugal, o paulistano Allan Yokohama (guitarra, violão, programações e voz) esculpia os arranjos, entre ritmos latinos, batidas programadas e violões distorcidos. Na Alemanha, o curitibano Fabiano Ferronato (bateria) criava as fundações das músicas novas, com vigor, pulsação e silêncios. No Brasil, o pantaneiro Dary Esteves Jr. (voz) modulava o discurso sem renunciar a canções.

O grupo (de WhatsApp, inicialmente) só ficou completo com a chegada do carioca Marcelo Caldas (baixo), da banda portuguesa The Invisible Age. Ele era velho conhecido da estrada: foi integrante do grupo glam Cabaret, que dividiu palcos com o Terminal Guadalupe em 2006 e 2007. Foi Marcelo quem também trouxe o produtor Iuri Freiberger.

Baterista da cultuada banda Tom Bloch, Freiberger lapidou álbuns de artistas novos e experientes, de Selvagens à Procura de Lei a Frank Jorge e Kassin. Ele e Yokohama dividiram a produção de “Agora e Sempre”, entre incontáveis trocas de mensagens e áudios e algumas poucas idas a Lisboa, onde bateria, baixo, guitarras, violões, sintetizadores e a voz de Allan foram gravados. Dary registrou sua voz em Curitiba.

O novo álbum traz canções em português, inglês, espanhol e italiano, fruto do esforço da banda para se comunicar com novos e diferentes públicos. Em “Ahora Y Siempre”, por exemplo, o convidado é o cantor e compositor uruguaio Dany López. Em “Privè”, a participação foi do cantor e compositor carioca Franco Cava, muito querido na Itália.

“As músicas transitam por universos diferentes, mas sempre chamam as coisas pelo nome, com a crueza de sentimentos que a realidade impõe. Isso torna o disco muito pesado ao mesmo tempo em que deixa claro: desistir não é uma opção. Buscamos forças. E recorremos a ironia, crítica e esperança para equilibrar as emoções”, teoriza Dary.

Sobre bases de cúmbia, flamenco, kraut-rock, sessentismo lo-fi e pop contemporâneo se assentam as letras de “Agora e Sempre”, que resgata um discurso histórico de Ulysses Guimarães: “Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América Latina”. É esta banda que diz ao país: “Você ainda vai nos redimir”.

“Agora e Sempre”

Ficha técnica
Produzido por Iuri Freiberger e Allan Yokohama.
Mixado e masterizado por Iuri Freiberger.
Gravado nos estúdios Casa do Fundo e Arnica, em Curitiba, e Leo Bracht Transcendental, em Porto Alegre, no Brasil; IO, em Montevidéu, no Uruguai; e Hybrid 13 e Yokohome Studio, em Lisboa, Portugal.
Todas as músicas são de Allan Yokohama com letras de Dary Esteves Jr., exceto:
• “¿Qué Pasa, Cabrón?”, “Black Song” e “Holidays in Amityville” – letra e música de Dary Esteves Jr.
• “Ahora Y Siempre” – música de Allan Yokohama e letra de Dary Esteves Jr. e Dany López
• “Privè” – música de Allan Yokohama e letra de Franco Cava

Terminal Guadalupe

Allan Yokohama – guitarra, violão, programações e voz
Dary Esteves Jr. – voz
Fabiano Ferronato – bateria
Marcelo Caldas – baixo

Participações

Dany López – voz e piano em “Ahora Y Siempre”
Franco Cava – voz em “Privè”
Rodrigo Lemos – teclados em “A Flor de Drummond” e “¿Qué Pasa, Cabrón?”
Iuri Freiberger – percussão digital e intervenções sonoras

Capa

Pietro Domiciano

Agora e Sempre por Rubens Herbst, jornalista e crítico musical em Joinville (SC)

"Gostei bastante, mas o que mais me 'chocou' foi a variedade sonora. Achei que seria algo mais acústico, folk, mas me vi em meio a uma profusão de estilos (e idiomas) que me pareciam várias bandas tocando. O novo disco do Terminal Guadalupe obriga o ouvinte a abrir mente e coração e esquecer o passado - inclusive o da própria banda - e encarar os sombrios tempos de agora. 'Agora e Sempre' é, ao seu modo, urgentíssimo"


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