Coral lança videoclipe de "Natal", que fecha o EP visual "Os Loucos Anos XX", pela Natura Musical
setembro 21, 2022
Projeto traça paralelo entre a década de 1920 e os dias atuais, a partir de releitura futurista do sertão; nesta quinta-feira, dia 22/9, clipe da faixa “Natal” encerra série de lançamentos realizada entre agosto e setembro
Se há uma Zaratustra do século XXI, entoando aforismos proféticos e emblemáticos sobre o tortuoso percurso da humanidade, ela é uma cangaceira futurista, trans e não binária. Alguém que não tenta afirmar a identidade, mas pergunta o que é identidade, transmuta a ideia de identidade, põe sobre a mesa de jantar da família a cabeça da identidade, ao descamar uma série de questionamentos sobre os absurdos da sociedade contemporânea. Essa é a imagem que a cantora, compositora e poetisa Coral apresenta no EP visual “Os Loucos Anos XX” (2022), cujo lançamento acontece pela Natural Musical, entre agosto e setembro. As faixas foram lançadas em série, nas plataformas digitais, sempre às quintas-feiras, sendo o último lançamento do projeto a faixa “Natal”, neste dia 22/9 — faça o pré-save aqui.
Das seis músicas do EP, quatro ganharam videoclipes viabilizados pela Natura Musical. Os lançamentos anteriores contemplaram produções audiovisuais do interlúdio “Anunciação” (11/8) e das faixas “O Fim do Mundo” (18/8), “O Jogador e a Cartomante” (25/8), “Manifesto” (1/9) e “Rainha de Paus” (8/9). Fechando o EP, a música “Natal” será lançada no Youtube, no dia 22/9. Todos os lançamentos são viabilizados pela LOCO Records, de Belo Horizonte, com distribuição da Ingrooves.
Sob a chancela de diversidade da Natural Musical, “Os Loucos Anos XX” é idealizado por Coral em parceria com a produtora cultural, antropóloga e poetisa Isadora Mayrink. “A música propõe debates pertinentes, que impactam positivamente na construção de um mundo melhor. Acreditamos que os projetos selecionados pelo edital Natura Musical podem contribuir para a construção de um futuro mais bonito, cada vez mais plural, inclusivo e sustentável”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding da Natura Musical.
O EP faz um paralelo direto com a transloucada década de 1920, marcada pela guerra, lutas por liberdades individuais e sexuais, ondas feministas, antropofagia modernista brasileira, surrealismo, proibição do álcool nos EUA e, quem diria, uma pandemia de gripe que dizimou o mundo. Esse contexto que parece pertencer ao século passado tem uma coincidência drástica e muito vívida com os dias atuais. Coral capta os meandros dessa convergência em seu EP, tendo como pano de fundo uma paisagem futurista do sertão do Brasil, a partir do olhar sertanejo e nordestino do berço da artista, nascida em Jequié, na Bahia, e radicada em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.
“Eu comecei a ‘viajar’ em coisas congruentes do século passado com este século, a discussão sobre a identidade brasileira, crise no capitalismo, american way of life, o cinema como novidade, discussões de gênero com mulheres brancas reivindicando direitos sociais, e no Nordeste brasileiro estava acontecendo o cangaço. Hoje, vemos crise no capitalismo, crise identitária, no lugar do modo de vida americano, consumimos muito a cultura chinesa, no lugar do cinema, o streaming e os blogueiros. Eu peguei tudo isso, como conceito, e trouxe para dentro deste projeto”, resume Coral.
No roteiro do projeto, cercado por uma aura de realismo fantástico que reinterpreta o sertão nordestino, Coral está em cena nos quatro videoclipes, nos quais ela é metade humana, metade anfíbia, é cangaceira, é cabra, figura tradicional da cultura nordestina. Coral é, enfim, uma infinidade de identidades e, sobretudo, muitas perguntas abertas sobre identidade, lançadas do meio do sertão profundo do país. “A partir do sertão, desse lugar que também é muito religioso e moralista, eu queria falar, que a minha identidade não é o que me foi dito, ela é outra, é isso aqui, veja. Eu acho que o projeto é um projeto otimista, traz uma mensagem de resistência mesmo, é quase uma coisa positivista, como se a gente dissesse que é possível”, diz a artista.
Os videoclipes foram gravados em estúdio, na capital mineira, e locações da cidade histórica de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, criando uma ambientação fluida para o sertão futurista de Coral. A direção-geral é assinada por Thiago Nascimento e a direção de arte ficou a cargo de Alex Oliveira.
As canções de “Os Loucos Anos XX”
Dentro desse contexto, as músicas de Coral ganham tom de manifesto e, embaladas por universos sonoros distintos, são, sem exceção, todas canções. E canções no sentido mais estreito da palavra, tal qual seja aquela melodia que assobiamos sem notar e a letra que cantamos distraídos, à capela, em qualquer lugar. Em todas as músicas, há um encontro do Nordeste com o mundo. Desde o coco pop de “Rainha de Paus”, embalada por beats acelerados do hip-hop americano, até a pegada blues de “O Jogador e a Cartomante”, uma música de amor, ambientada por um violão de aço e o triângulo do forró.
“Toda a sonoridade do EP é uma proposta de fazer com que as pessoas entendam as canções de voz e violão em outros lugares. Entendam a canção aberta para essas sonoridades novas, eletrônicas, até elementos cinematográficos, como o flash da câmera, por exemplo, inserido em uma música, ou o próprio triângulo, em diálogo com o eletrônico, a guitarra e o violão”, explica Coral.
Nas letras, há uma poesia gritante, sintética e profética, responsável por afirmar as novas perspectivas de humanidade cantadas por Coral, como os versos de “Natal”, canção que reverencia uma espécie de ‘Messias’ mulher nos versos: “canta o mundo lá de longe / nutri o homem, benza a deus / deus menina já nasceu (...) bendita é a fruta de qualquer flor / perdoa esse pudor”.
As músicas foram gravadas no estúdio Toca Produções Musicais, sob a produção de Thiago Braga, que também gravou vários instrumentos, a exemplo das guitarras, baixo acústico, percussão, teclado, bateria, além das programações eletrônicas. O trabalho também tem participações de Nath Rodrigues (vocais e violino) e Max Teixeira (violões).
O EP “Os Loucos Anos XX” foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LEIC), ao lado de Luiza Brina, Pássaro Vivo, Mostra Negras Autoras e Casa Poça, por exemplo. Em território mineiro, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 140 projetos de música até 2020, como Bemti, Fernanda Takai, Lô Borges e Meninos de Araçuaí.
Faixa a faixa — Clipe a clipe
1. “O Fim do Mundo”. Uma música que fala que o mundo está acabando e quem vai salvar o mundo é Nossa Senhora. É um baião trap, a partir de um conceito bem contemporâneo. No clipe, a gente traz uma figura que está usando um figurino referenciado no cangaço, uma pessoa trans não binária que está posando para uma foto, tirada com um lambe-lambe, como é o único registro de Lampião e Maria Bonita, mas agora em cenário futurista.
2. “O Jogador e a Cartomante”. É uma música de amor, com letra em inglês. Fizemos um blues meio nordestino, porque tem um triângulo. No videoclipe, temos uma figura que é metade cabra e metade gente, cantando a música para um casal que está jogando baralho, fazendo suas escolhas.
3. “Rainha de Paus”. Essa música está ambientada em um cenário totalmente diferente, é uma praia no sertão, e aí uma figura metade humana, metade anfíbia que assiste TV, vendo o fundo do mar, em alusão à ideia de que, no futuro, o sertão vai virar mar. A gente trouxe essa analogia do mar e sertão que pode ser usada para pensarmos outros debates, que também são antagônicos e não resolvidos, como por exemplo, que há cem anos se fala sobre feminismo e o discurso ainda não chegou no corpo, não chegou na prática que almejamos.
4. “Natal”. O videoclipe tem uma figura que começa a receber mensagens por monóculos, como se fossem um oráculo, que vai trazendo mensagens sobre a realidade das feminilidades. É a história sobre o nascimento de uma espécie de ‘Messias’ mulher. Isso tem a ver com o fato de a gente ser criada em um lugar cristão muito forte, um lugar que eu, enquanto artista e pessoa trans não binária, tento subverter musicalmente e poeticamente.
Sobre Coral
Coral é poeta, cantora, compositora, intérprete e musicista de Jequié (BA), com mais de 15 anos de carreira na música. Hoje, morando e trabalhando em Belo Horizonte (MG), Coral é uma expoente significativa da cena musical independente, o que se comprova pelas suas participações recentes em festivais como Transborda, Novas Trilhas, Luzes da Liberdade, Música Mundo, Sarará e DDM Barreiro, todos com produção em Belo Horizonte; Festival de Jazz de Trancoso, na Bahia; e Festival de Solos, com produção em Campinas (SP). Em 2020, apresentou seu repertório autoral em um show no Minas Tênis Clube, em BH, e foi contemplada pelo edital da Natura Musical. Em cena, Coral recria diversos ritmos como samba, maracatu, coco, reggae, ijexá, funk, MPB e pop, emoldurando uma poesia engajada e potente a partir de seu lugar como artista e pessoa trans não binária.
Sobre Natura Musical
Natura Musical é a plataforma de cultura da marca Natura. Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu cerca de R$ 174,5 milhões no patrocínio de mais de 518 projetos — entre trabalhos de grandes nomes da música brasileira, lançamento e consolidação de novos artistas e projetos de fomento às cenas e impacto social positivo. Os trabalhos artísticos renovam o repertório musical do País e são reconhecidos em listas e premiações nacionais e internacionais. Em 2020, o edital do Natura Musical selecionou 43 projetos em todo o Brasil e promoveu mais de 300 produtos e experiências musicais, entre lançamentos de álbuns, clipes, festivais digitais, oficinas e conferências. Em São Paulo, a Casa Natura Musical se tornou uma vitrine permanente da música brasileira, com uma programação contínua de lives, performances, bate-papos e conteúdos exclusivos, agora digitalmente.
SERVIÇO
Coral lança “Natal”, videoclipe de “Os Loucos Anos XX” (Natura Musical)
Escritora, autora da duologia "A Princesa e o Viking" disponível na Amazon. Advogada e designer de moda. Desde 2008 é blogueira. A longa trajetória já teve diversas fases, iniciando como Fritando Ovo e desde 2018 rebatizado como Leoa Ruiva, agora o blog atinge maturidade profissional, com conteúdo inovador e diferenciado. Bem vindos!
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