Sem prazo de validade: é possível criar um décor residencial atemporal e com a personalidade dos moradores?
junho 28, 2022
O tema é complexo, mas a resposta para essa missão pode ser mais fácil do que se imagina! Para isso, conversamos com as arquitetas do Studio Tan-gram e revelamos as nuances sobre o processo de decoração
Com a área social integrada, o projeto atemporal proposto pelo Studio Tan-gram levou em conta uma grande demanda das pessoas atualmente: o retorno ao natural, com a madeira em posições específicas do décor e plantas que propõe pontos verdes e orgânicos na sala! |Foto: Estúdio São Paulo
Novas tendências, modas, trends diárias nas redes sociais, décadas passadas revisitadas e uma enxurrada de itens e produtos lançados todos os dias. O período em que estamos vivendo é marcado por um tsunami de informações e tudo isso, é claro, faz uma referência direta com a arquitetura e decoração. Mas, será que mesmo com essas mudanças constantes é possível decorar a casa de maneira longeva e com escolhas que não se caracterizem como ‘datadas’ com o passar do tempo?
Para discutir esse tema complexo, as arquitetas Claudia Yamada e Monike Lafuente, do Studio Tan-gram, abriram o jogo. Experientes, ambas refletiram sobre o estilo adotado nos projetos executados pelo escritório e apontaram tendências do passado e do presente, procurando descobrir e identificar o que veio para ficar no futuro do décor.
A desmistificação do neutro como único elemento atemporal
Um dos grandes mecanismos para garantir que um ambiente se mantenha atemporal é apostar em uma predominância dos tons claros. “Normalmente, buscamos trabalhar com uma base o mais neutra possível. Claro que, dependendo do conceito do projeto, as cores se fazem presente, e isso é perfeito! Entretanto, esse efeito é realizado comumente por meio da aplicação em itens complementares e de produção, como almofadas, mantas, mesa lateral e outros elementos que podem ser substituídos, mais facilmente, ao longo do tempo”, explicam as profissionais.
Contudo, até mesmo essa ideia de predominância pode ser alterada caso o morador expresse o desejo de viver mais perto das cores e fugir de uma paleta mais tradicional, assim como pode utilizar tons mais fechados, como o azul-marinho ou o amadeirado, que se passam muito bem pelo neutro. “Existe, hoje em dia, uma facilidade muito grande, até na marcenaria, de pintar e envelopar. Ficou muito mais simples realizar a troca dos acabamentos, que deixou de ser um processo caótico, como encontrávamos anos atrás”, constata Claudia. Quando o cliente demonstra essa predileção, elas revelam que o projeto deve assumir essa singularidade para evidenciar as cores mais intensas em peças maiores e imponentes, como um sofá ou uma marcenaria planejada, por exemplo.
A base neutra foi o ponto de partida desse projeto do Studio Tan-gram, que coloriu o espaço com um sofá e tapete roxo | Foto: Nathalie Artaxo
Graças aos avanços na área do décor, fica mais fácil promover uma mudança no ambiente sem que seja necessária a troca de todo o mobiliário. Ainda para as arquitetas, o entendimento sobre atemporalidade foi ressignificado no décor. “Antigamente, o atemporal era automaticamente relacionado com o emprego de tons claros. Mas tudo segue de acordo com o momento que estamos vivendo”, analisa Monike. Para ela, hoje em dia o cinza é uma das cores atemporais empregadas com o intuito de atribuir beleza e, ao mesmo tempo, ser a sustentação para aplicar outras expressivas. “Entretanto, na arquitetura de interiores a equação não é apenas essa. Pensando na harmonia, a utilização de cores complementares ou análogas também pode resultar em um projeto atemporal. Tudo depende do olhar meticuloso dos profissionais à frente do projeto”, complementa.
A partir desse pensamento, a dupla do Studio Tan-gram promove um verdadeiro trabalho de curadoria e análise do espaço em questão para desenvolver essa perenidade no décor. “Sempre destacamos para nossos clientes que o projeto precisa evidenciar aquilo que eles não vão enjoar. Esse é o segredo para que a pessoa conviva bem, a longo prazo, com as cores destacadas”, enfatiza Claudia.
Investir no durável e inovar no básico
Outro ponto inevitável para se refletir, quando o assunto é um décor que não perde a validade, é exatamente sobre a durabilidade dos elementos que integram a decoração. “Tudo o que é sintético acaba durando mais”, afirmam as arquitetas que sugerem, por exemplo, a utilização de amadeirado ao invés de folha de madeira, ou palha sintética ao contrário da palha indiana, para quem procura evitar a manutenção frequente do décor. “Até pela questão de praticidade mesmo! Como os pisos de madeira, que dão mais trabalho, existem outras escolhas como porcelanato e vinílico, que tem o aspecto estético muito similar e que vão durar mais, ajudando também na questão da sustentabilidade”, refletem elas sobre a escolha dos materiais sintéticos, afinal, eles não sofrem tanto com a ação do tempo.
O porcelanato utilizado para o piso desse projeto do Studio Tan-gram garante praticidade e durabilidade. Fácil de limpar e sem correr o risco de arranhar, como no caso de uma madeira natural, o piso funciona como uma base neutra e atemporal para que seja feita a disposição do décor. Nas salas de estar e jantar integradas, o branco e o azul da sala foram um contraponto à base neutra | Foto: Nathalie Artaxo
O que vem pela frente?
Mesmo com o passar dos anos, alguns mobiliários e itens de decoração permanecem no gosto popular, sendo impossível datá-los como peças do passado. “Tem alguns itens são clássicos e que não saem de moda nunca. Um exemplo disso é a poltrona Mole, do designer Sérgio Rodrigues”, destaca Claudia, ressaltando o trabalho importantíssimo do designer carioca que nos deixou em 2014, mas mantém firme seu legado como um dos maiores nomes do design nacional.
“Algumas peças acabaram ficando batidas em função da criação de réplicas, como as poltronas Charles Eames. Ainda assim, acredito que ela segue como duradoura, pois é super ergonômica e confortável! ”, exemplifica Claudia, fazendo referência às cadeiras e poltronas criadas pelo casal norte-americano de designers Charles e Ray Eames, em meados dos anos 60. “De fato, algumas peças ficaram batidas porque todo mundo quer tê-la. Contudo, quem quer eliminar essa sensação de algo ‘batido’, precisa implementar o sentido para ela. É nosso papel envolvê-la no décor em um alinhamento mais contemporâneo”, declara a arquiteta.
Partindo para as tendências atuais, elas são enfáticas no desejo de trazer o natural para dentro de casa. “Por isso temos visto muito a paleta de verde e de tons terrosos no décor de interiores. Até mesmo por conta do período que atravessamos, e em função outros estilos mais ‘frios’ de decoração, como industrial, o ser humano começou a sentir falta dessa conexão com a essência da vida. Dessa forma, a introdução de materiais rústicos, plantas, e cores que nos deixam mais confortáveis, tem sido pedidos recorrentes”, enumera Monike.
A explicação para isso está nos próprios movimentos da sociedade atual e nas soluções que procuramos, enquanto indivíduos, para manter o bem-estar nesse cotidiano cada vez mais acelerado. “A natureza, de uma maneira geral, te traz para o momento presente. Eu acredito que isso veio para ficar”, finaliza Claudia, provando que a arquitetura e o décor refletem o comportamento da sociedade na contemporaneidade.
Os tons terrosos do projeto entram em harmonia com elementos naturais como as plantas e o amadeirado, trazendo conforto, charme e sensorialidade para o décor do ambiente. Além disso, a sobriedade é quebrada com a força do azul-marinho no armário aéreo da cozinha. | Foto: Estúdio São Paulo
Na varanda, o modelo clássico das cadeiras, deixando o cantinho do apartamento, localizado em São Paulo, como um ponto de refúgio e tranquilidade. “Atemporal é aquilo que faz e fará sentido para você”, arrematam as profissionais. | Foto: Estúdio São Paulo
Neste outro projeto do Studio Tan-gram, também localizado em São Paulo, as pedras e a madeira trazem o natural para o imóvel, deixando o ambiente ainda mais aconchegante e sensorial, através da textura dos materiais escolhidos para o décor! Foto: Nathalie Artaxo
Sobre Studio Tan-Gram
Tangram é um quebra-cabeça chinês formado por 7 peças geométricas capazes de formar até 5 mil formas diferentes. Inspirado nesta pluralidade, versatilidade e criatividade surgiu o nome do escritório, liderado pelas arquitetas Monike Lafuente e Claudia Yamada. A arquitetura que concebem e acreditam se estrutura na multiplicidade de soluções, adaptabilidade ao usuário-espaço e renovação de conhecimento contínua. São espaços desenvolvidos para o ser humano e, portanto, cada desafio traz uma solução individual.
Escritora, autora da duologia "A Princesa e o Viking" disponível na Amazon. Advogada e designer de moda. Desde 2008 é blogueira. A longa trajetória já teve diversas fases, iniciando como Fritando Ovo e desde 2018 rebatizado como Leoa Ruiva, agora o blog atinge maturidade profissional, com conteúdo inovador e diferenciado. Bem vindos!
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