Nesta sexta-feira, 13 de maio, chega às plataformas digitais “Crônica do maxo discreto”, single que antecipa o lançamento de OCUPAÇÃO, primeiro disco do reverenciado duo português Fado Bicha. Criado em Lisboa por Lila Fadista e João Caçador, o projeto - que enfrenta os puristas do secular estilo musical com letras desafiadoras e sonoridade contemporânea -, desembarca no Brasil em julho para dar início à turnê de lançamento do novo trabalho.
A canção traz um poema que Lila escreveu para a melodia do clássico fado “Nem às paredes confesso”, mas a dupla decidiu compor uma nova música quando os herdeiros do compositor não autorizaram a sua gravação. O rock oitentista, declaradamente inspirado na obra de António Variações, “uma espécie de Cazuza português que veio a morrer de aids e deixou um legado muito peculiar para a nossa música”, explica Lila, é uma clara provocação. A guitarra com overdrive, o sintetizador em loop e a bateria eletrônica estampam de cara o desapego aos velhos paradigmas e a indiferença a quem torce o nariz.
Satírica e cômica, a letra conta a história de um homem em negação que jura amar a namorada, mas vive um relacionamento homossexual às escuras: “De quem eu gosto é da minha namorada / Vá lá, entende / Ela não pode saber de nada / Não mandes mais mensagens /Que eu vou apagar o Grindr / De quem eu gosto é da minha namorada”.
Cantado na primeira pessoa, a música revela alguém com desejos reprimidos, experimentados em segredo e tensão. O sarcasmo da letra – que narra a saga de um homem que vive em uma relação heterossexual de fachada e se torna usuário de aplicativos de encontros – inspira uma série de referências queer no clipe, dirigido por Marcelo Pereira e Pedro Maia.
A personagem Frank 'n Furter, do filme Rocky Horror Picture Show, os shock artists Leigh Bowery e Divine e o cantor Klaus Nomi foram referências diretas na criação de uma estética de monstruosidade queer presente no trabalho. O vídeo é protagonizado por Lila, João e Hugo van der Ding, conhecido comediante português e apresentador do programa de rádio Manhãs da 3, além de ter participação das ativistas LGBTQIA + Alice Azevedo e Carmo Gê Pereira.
“As pessoas LGBTQIA +, embora façam parte dessa história e também da prática atual do fado, dificilmente puderam criar e deixar um legado artístico que refletisse integralmente as suas experiências e identidades. Há uma rigidez cisheteronormativa no fado, tanto na prática artística como na indústria que a sustenta, que espelha e talvez até ultrapasse a que encontramos na sociedade portuguesa ou na comunidade musical como um todo e que exclui muitas vivências e particularidades”, explica Lila.
A produção musical de OCUPAÇÃO é de Luís Clara Gomes, conhecido na Europa por seu trabalho de músico eletrônico sob o pseudônimo Moullinex.
Sobre o Fado Bicha
Fado Bicha é um projeto musical, performativo e ativista criado em Lisboa, em 2017, por Lila Fadista, na voz e nas letras, e João Caçador, na composição e instrumentos. Tomando o fado como principal ferramenta de trabalho, Lila e João pretendem fazer uma exploração livre desse patrimônio, que ultrapassa algumas das barreiras rígidas do fado tradicional atual, particularmente a normatividade de gênero e o apagamento das contribuições e das experiências das pessoas LGBTQIA+. O projeto se assume de intervenção, partindo das identidades bichas de Lila e João e do seu envolvimento em meios e temáticas ativistas para garantir pertencimento e legitimidade naturais, tanto no caráter mutável do fado (como qualquer expressão artística), como na ancestralidade queer abafada - no fado e na sociedade portuguesa em geral.
Escritora, autora da duologia "A Princesa e o Viking" disponível na Amazon. Advogada e designer de moda. Desde 2008 é blogueira. A longa trajetória já teve diversas fases, iniciando como Fritando Ovo e desde 2018 rebatizado como Leoa Ruiva, agora o blog atinge maturidade profissional, com conteúdo inovador e diferenciado. Bem vindos!
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