"EMBYRA" e "CO YBY ORÉ RETAMA" apresentam as memórias ancestrais indígenas do artista Andrey Guaianá Zignnatto

setembro 03, 2021

Eventos vão mostrar a história Tupinaky'ia e Guarani


Um resgate das memórias afetivas e ancestrais indígenas. Esse é o tema de duas exposições do artista Andrey Guaianá Zignnatto, que acontecem em São Paulo, em setembro.

Deste sábado (4/9) até 5 de dezembro, no Museu Afro Brasil, Zignnatto apresenta "Embyra", ou “restos” na língua Tupi, apresenta um conjunto de sete obras, entre escultura, instalação, videoarte e objetos, criados a partir das memórias afetivas e ancestrais de sua família indígena Tupinaky’ia e Guarani. Já no dia 25, o artista realiza a CO YBY ORE RETAMA (Esta Terra é Nosso Lugar), no Museu da Cidade de São Paulo – Solar da Marquesa de Santos.  

A exposição "Embyra", na visão do artista, é um esforço para equalizar os elementos de dois universos muitos distintos: o urbano e o dos povos originários, de forma a reconstruir seu universo ancestral indígena.

“O Museu Afro Brasil está localizado na região da aldeia de Caiubi, um dos irmãos caciques da minha família ancestral. Essa exposição é uma forma de um Guaianá reabitar esse lugar, mesmo que por um curto período de tempo, e por caminhos poéticos, onde o público é generosamente convidado para também habitar esse Tekoa, território físico, mental e espiritual”, diz Zignnatto. De acordo com ele, os trabalhos expostos podem ser considerados um meio de demarcação indígena tanto do espaço físico da exposição, do circuito das artes visuais, do território subjetivo da arte e do imaginário de cada pessoa do público presente na exposição.

“Embyra” estará em cartaz no Museu simultaneamente à mostra “Heranças de um Brasil Profundo”, que reúne mais de 500 objetos entre obras de arte e utensílios da cultura material indígena de raiz brasileira. A exposição encerra a trilogia do Museu Afro Brasil que visa iluminar as contribuições artísticas e culturais dos povos que deram origem ao Brasil, que teve início com Africa Africans, em 2015, e foi seguida por Portugal, Portugueses – Arte contemporânea, em 2016.

"Neste mundo, onde as sociedades vivem sob grande tensão, submetidas a violentos processos de sufocamento, quem sabe os conhecimentos indígenas e sua arte tão ignorados pela sociedade urbana possam, de alguma forma, oferecer novas propostas para gerar momentos em que as pessoas encontrem ao menos um lugar para tomar fôlego. Espero que a exposição possa servir como um desses lugares, e compartilhe anga (ânimo-alma) com o público que por ela passar", afirmou Zignnatto.

“A exposição Embyra dialoga com as temáticas abordadas pela instituição e amplia a discussão sobre as nossas origens, sobre a defesa dos indígenas, dessa gente forte e resiliente”, disse Emanoel Araújo, diretor-curador do Museu Afro Brasil.

Serviço:

Nome: Embyra (Restos)

Local: Museu Afro Brasil

Abertura: 04 de setembro, sábado

Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Vila Mariana, São Paulo 

Dias e horários: terça a domingo, das 11h às 16 horas

Entrada: Gratuita

 

CO YBY ORE RETAMA

A construção do lar, a partir de memórias afetivas, é tema constantemente presente na vida e trabalho de Zignatto. Para a exposição CO YBY ORE RETAMA (Esta Terra é Nosso Lugar), em cartaz a partir de 25 de setembro, no Museu da Cidade de São Paulo – Solar da Marquesa de Santos, ele equilibra forças de universos distintos – vida urbana e ancestralidade indígena – para reconstruir um Tekoa (lar) de fôlego em tempos de sufocamento. Com curadoria assinada por Sandra Ará Reté Benites e produção de Ellen Navarro, serão exibidas obras em diversos suportes, como escultura, instalação, performance, vídeoarte, objetos, pintura e fotografia, que se utilizam de materiais como concreto, cerâmica, saco de cimento, jenipapo, carvão e livros, misturando a vida urbana com o universo das aldeias.

A escolha do Solar da Marquesa não aconteceu por acaso: o centro cultural está localizado onde antes do período colonial paulista foi Inhapuambaçu, aldeia Tupinaky’ia da qual Zignatto é descendente por parte de pai e que sofreu apagamento total de seu universo ancestral. O artista também possui ancestralidade indígena por parte de mãe, dos Guarani Mby’a, povo que o auxilia num processo pessoal de retomada como aba (homem) indígena.

“Apoiado sobre essas poucas memórias que me sobram como herança, na arte e suas muitas potencias, me esforço para desenvolver um processo de reflorestamento do universo ancestral de minha família, onde este esforço se inicia no território de meu próprio pensamento e espírito e toma forma em meu trabalho”, afirma o artista.

Memórias afetivas

Os trabalhos são frutos das memórias afetivas da época em que o artista atuou como pedreiro, dos 10 aos 14 anos de idade, e das memórias ancestrais de sua família indígena Tupinaky’ia e Guarani. “A arte é o meio possível que encontrei para equalizar as memórias afetivas de minha vida urbana e de minha experiência como pedreiro participante da construção de cidades com minhas memórias ancestrais indígenas”, comenta.

Serviço:

Nome: CO YBY ORÉ RETAMA (Essa Terra é o Nosso Lugar)

Curadoria: Sandra Ará Reté Benites

Produtora: Ellen Navarro

Local: Museu da Cidade de São Paulo - Solar da Marquesa de Santos

Abertura: 25 de setembro, sábado

Endereço: R. Roberto Simonsen, 136, Sé, Centro Histórico de São Paulo

Dias e horários: terça a domingo, das 11h às 15h

Entrada: Gratuita

 

Quem é Andrey Guaianá Zignnatto

Eu sou artista descendente por pai dos povos Tupinaky’ia Guaianás que habitaram os territórios onde hoje é chamado São Paulo, etnia indígena que sofreu apagamento total de seu universo ancestral. O que restou deste povo e seu universo são alguns relatos em textos produzidos por seus colonizadores. Por parte de minha mãe, descendo dos Guarani Mby’a, povo que me tem auxiliado num processo pessoal de retomada como aba (homem) indígena. Apoiado sobre essas poucas memórias que me sobram como herança, na arte e suas muitas potências, me esforço para desenvolver um processo de reflorestamento do universo ancestral de minha família, esforço que se inicia no território de meu próprio pensamento e espírito. A reconstrução desse Tekoa* toma forma em cada trabalho produzido durante estas pesquisas e pode se expandir para muitas dimensões durante cada exposição, na experiência do contato entre o público e cada trabalho.

*TEKOA literalmente, significa o lugar do modo de ser guarani, sendo esta categoria modo de ser (tekó) entendida como um conjunto de preceitos para a vida, em consonância com os regramentos cosmológicos herdados pelos antigos guaranis.

 

Você poderá gostar também

0 comentários

Deixe sua opinião sobre o post: Não esqueça de curtir e compartilhar

snapwidget

Subscribe

//]]>