VOLTA ÀS AULAS & SAÚDE | Escolas particulares debatem modelos viáveis para retorno às aulas
fevereiro 06, 2021Em um encontro virtual, mantenedores, gestores e coordenadores de escolas privadas de diferentes Estados do Brasil - todas parceiras da Geekie - compartilharam as estratégias e experiências para o retorno às aulas com segurança para pais, responsáveis, alunos e funcionários. Os aprendizados de 2020, na opinião dos participantes do evento, podem nortear o retorno em 2021
São Paulo, 5 de fevereiro de 2021 | O ano letivo de 2021 teve início em meio aos grandes desafios apresentados pela ainda presente pandemia de Covid-19. Em Estados como Amazonas e São Paulo, a detecção de uma nova cepa do coronavírus obriga educadores, alunos, pais e responsáveis a repensar o retorno às aulas, tendo como norteadora a segurança da comunidade escolar. Para debater caminhos possíveis e compartilhar experiências, a Geekie realizou um encontro virtual com mantenedores, gestores e coordenadores de escolas particulares parceiras. A proposta foi entender como essas instituições de ensino lidaram com as demandas em 2020 e como estão se preparando para mais um período de aulas remotas. Entre os participantes, profissionais do Colégio Connexus, Colégio Belo Futuro e Casa Escola, respectivamente, das cidades de Manaus, São Paulo e Natal.
Segundo Claudio Sassaki (foto), mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie, no início da pandemia, o país tinha um cenário no qual o fechamento das escolas era uma demanda clara diante do apelo do momento. Hoje, o contexto mudou, sobretudo, porque uma coisa é fechar as escolas por poucos meses, outra é fechar por um ano. “Neste momento, os especialistas em educação estão sendo muito claros sobre os prejuízos de desenvolvimento. Como Geekie, enxergamos essa decisão do retorno como bastante complexa, porque demanda equalizar dois elementos nesta balança: a questão da saúde e da educação. Há, ainda, que se considerar que há muitos Brasis dentro do Brasil, ou seja, as realidades da pandemia são distintas em cada região, tornando insensata uma única vertente de ação diante de situações desiguais. É relevante restabelecer a qualidade de ensino, que passa pelo apoio presencial – porque estamos falando de interação, trocas, desenvolvimento psicomotor – que só pode ser garantido, quando tivermos as escolas abertas”, analisa Sassaki, acrescentando que a realização desse encontro com escolas parceiras teve o objetivo de fomentar e qualificar o debate a partir da troca de experiências.
Em Manaus, Colégio Connexus vivenciou três modelos de escola em 2020. “Tivemos, em 2020, três formatos de escola: o presencial, no início do ano; o totalmente remoto, por cerca de quatro meses; e o híbrido (presencial e remoto), de julho até o final do ano”, detalha Carlos Fabiano Afonso de Souza, diretor pedagógico da escola. Na capital amazonense, os casos do coronavírus tiveram uma curva de crescimento rápido no primeiro semestre de 2020, mas logo a situação se estabilizou e possibilitou o retorno a um modelo híbrido, permitindo aulas presenciais e remotas. De acordo com a equipe pedagógica da escola, o regime híbrido foi estabelecido com três dias semanais de aulas presenciais do segundo ao oitavo anos do Ensino Fundamental; e quatro dias semanais para o nono ano do Ensino Fundamental e as três séries do Ensino Médio. Essa organização intercalou, ainda, os anos e as séries ao longo do período remoto.
“Decidimos fazer uma primeira semana, trazendo segmento por segmento primeiro; depois, na semana seguinte, começamos a oferecer o modelo híbrido. Retornamos com cerca de 85% do nosso público, o que foi uma surpresa muito grande, mas precisamos intercalar os segmentos para garantir a segurança de todos, porque temos um número grande de alunos”, explica a coordenadora pedagógica do Colégio Connexus, Nívia Maria Crus Carvalho. Ela acrescenta que houve uma divisão de turmas de cada série no modelo de aulas com transmissão simultânea – tanto no presencial como no remoto –, além da gravação das aulas presenciais para que discentes pudessem assistir ao conteúdo de maneira assíncrona. O diretor do colégio, acrescentou que todos os alunos assistiam às aulas presenciais, dividindo as turmas pela metade. “Portanto, as aulas presenciais eram repetidas para as duas metades das turmas a cada dia. Nem todas as turmas precisaram ser divididas em duas, mas a maioria, sim”, revela.
Com a expertise adquirida ano passado, o Colégio Connexus decidiu que o ano letivo de 2021 contará com a divisão das turmas entre presencial e remoto. Na prática, o docente vai conduzir apenas uma aula para as duas modalidades. “Como já adquirimos experiência de como conduzir as aulas dessa forma, estamos investindo na formação e preparação dos professores e das professoras para continuar com o modelo simultâneo em 2021”, relatou a coordenadora do colégio.
Aposta no modelo de retorno gradual
Em São Paulo, o Colégio Belo Futuro testou um retorno presencial, em dias alternados da semana, com 20% dos estudantes e apenas com atividades extracurriculares, quando o governo do Estado autorizou a retomada parcial das aulas, em novembro do ano passado. A necessidade do retorno às aulas presenciais para o Colégio Belo Futuro, em 2020, foi solucionada – no primeiro momento – com uma hora de atividades complementares por semana para os alunos. Essa foi uma medida para diminuir a pressão do isolamento social enfrentado pelas crianças e pelos adolescentes da escola. Segundo Annelize de Farias Lenci, diretora pedagógica do colégio, naquele momento, apenas educadores que não integravam o grupo de risco voltaram para o prédio do estabelecimento.
O modelo adotado entre novembro e o final de dezembro de 2020, também, foi o de transmissão simultânea para estudantes que estavam na escola e para os que continuaram em casa. As aulas de docentes do grupo de risco, por sua vez, foram ministradas por eles nas próprias casas; os alunos que estavam na escola, acompanharam o conteúdo usando seus chromebooks. “Começamos bem precavidos e com pouco tempo dentro da escola para que estudantes, professores e colaboradores pudessem sentir segurança e para que pudéssemos entender quais seriam os problemas enfrentados e solucionados, antes de passarmos para uma próxima fase”, explica Annelize.
Camila Karino, diretora pedagógica da Geekie, aponta que este modelo de retorno gradual – recomendado pelas autoridades de Educação e Saúde – é o caminho mais indicado para a retomada. A especialista destaca que essa forma de retomar às aulas, que envolve testes antes de cada passo do retorno, é importante para a escola sentir o comportamento de toda a comunidade escolar e entender como a instituição pode enfrentar os possíveis problemas ocasionados pela pandemia, antes de avançar para uma flexibilização maior das aulas presenciais.
Em 2021, o Colégio Belo Futuro mudará a estratégia de aulas. A diretora da escola explica que em vez de atender diariamente todos os segmentos, atenderão cada um em dias diferentes. “Nossa ideia é separar estudantes em duas turmas e, com o apoio dos auxiliares de classe, enquanto uma parte da turma assiste à aula com um professor, a outra parte a assiste pelo chromebook de forma simultânea. Na aula seguinte, essa lógica se inverte, para todas as turmas terem contato com docentes. O objetivo dessa estratégia é fazer com que os alunos desses dois segmentos se sintam mais motivados ao verem mais colegas dentro da escola”, destaca Annelize.
Diálogo com autoridades de saúde
Em Natal, uma comissão de gestores da Casa Escola dialogou com autoridades para garantir a retomada das aulas presenciais em 2020. Priscila Griner, diretora pedagógica da instituição que funciona no Rio Grande do Norte, conta que o colégio foi um dos primeiros a interromper as aulas presenciais. Isso ocorreu, porque a escola recebeu uma notificação da Secretaria Municipal de Saúde da capital potiguar, informando que a família de um estudante teve contato com um indivíduo infectado pelo coronavírus durante uma viagem de avião.
Na Educação Infantil, os docentes passaram a planejar as aulas com três semanas de antecedência. “Enviamos a cada duas semanas materiais e atividades por motoboy”, comenta a diretora da Casa Escola, associando a prática a um exemplo de estratégia de ensino e interação. As famílias dos estudantes da Educação Infantil dividiam com os docentes a dificuldade de as crianças permanecerem nas aulas on-line, então, a escola produziu mais vídeos e atividades – com cópia em papel, trazendo roteiros que sustentaram, com a ajuda dos pais, as aulas desse setor”, detalha.
Priscila salienta que diante de tantas mudanças em tão pouco tempo, tiveram muitas dificuldades nesse processo: alunos fechando as câmeras, ficando debaixo da mesa, famílias questionando sobre nosso modelo. “Inclusive, o tempo de reunião com as famílias foi incontável; elas precisaram de muito apoio, porque familiares e estudantes começaram a desenvolver quadros de depressão por conta de toda a situação”, lembra a educadora. Além do apoio para a comunidade escolar, a escola também formou uma comissão com as famílias e os funcionários da escola para debater todos os passos do retorno às aulas, uma estratégia importante para manter a confiança da comunidade escolar.
“O retorno às aulas presenciais no Estado foi fixado para 15 de setembro; essa comissão de famílias e funcionários nos trouxe bastante credibilidade para seguir com os protocolos. A escola já estava bem pronta para o retorno e voltamos com 25% dos estudantes e a cada semana foi aumentando esse percentual”, afirma, acrescentando que houve a criação de uma Comissão de Gestores das escolas da cidade de Natal e de municípios do Estado. Ela relata que essa comissão recorreu à opinião especializada de médicos e da imprensa para convencer prefeituras e o governo do Estado a permitir o retorno às aulas presenciais, dado o quadro agravado do aspecto socioemocional de muitos estudantes e suas famílias.
“Uma outra estratégia diferenciada foi desenvolvida para os alunos do Ensino Fundamental 2: com o acompanhamento da equipe pedagógica, aumentamos o intervalo para uma hora de duração. Essa medida propiciou um tempo maior de socialização entre os estudantes e ajudou a alinhar o tempo de exposição à tela dos alunos que ficavam em casa no ensino remoto. Os pais solicitavam a redução da carga horária de estudo; acolhemos o pedido e fomos aumentando, progressivamente, para todos os segmentos da escola”, conta.
Em 2021, o modelo de transmissão simultânea trará desafios tanto para docentes como para estudantes. “O trabalho do docente exige olhar para cada aluno, ou seja, dar uma atenção especial para cada estudante. Por isso, estruturamos o nosso modelo, usando câmeras de forma que permitiam que os estudantes que estão em casa consigam ver os que estão no presencial”, afirma a diretora.
Protocolos de segurança
Como as escolas lidaram com a contaminação pelo coronavírus de estudantes, docentes e funcionários? Annelize, diretora do Colégio Belo Futuro, relata dois casos que geraram aprendizados importantes. O primeiro foi de uma professora infectada em um ambiente externo. A ação foi mapear os contatos que a docente teve dentro da escola e manter a transparência na comunicação com toda a comunidade escolar. O resultado foi o afastamento de 12 funcionários da escola – nenhum deles testou positivo para o coronavírus. A dica da diretora, nesses casos, é que cada escola retome o plano de segurança, fazendo reuniões semanais ou quinzenais com um comitê dedicado ao assunto. Na pauta desses encontros deve constar a análise das ações adotadas para verificar se elas precisam de alguma revisão durante as aulas presenciais.
Na Casa Escola, com a retomada às aulas presenciais, a escola entendeu a importância de manter a transparência com estudantes, famílias e docentes. A diretora Priscila Griner conta que apenas uma professora-auxiliar foi acometida pelo coronavírus. “Frente ao ocorrido, toda a comunidade foi informada; a docente afastada para cuidar da saúde e os protocolos referentes a biossegurança mantidos”, salienta.
Para 2021, Camila Karino (foto) destaca que outra abordagem possível é a instrução diferenciada. “Essa estratégia consiste em colocar uma parte da turma assistindo à aula do professor, assim o docente pode focar nas necessidades desses estudantes; enquanto isso, a outra parte faz atividades direcionadas em outro espaço em vez de assistir à mesma aula de forma simultânea”, explica a diretora pedagógica da Geekie.
SOBRE A GEEKIE | Referência em educação com apoio de inovação no Brasil e no mundo, a Geekie foi fundada em 2011 – pelos empreendedores Claudio Sassaki e Eduardo Bontempo – com a missão de transformar a educação do país. Em uma década, a empresa tem desenvolvido soluções inovadoras que potencializam a aprendizagem. Com foco no Ensino Básico, a edtech alia tecnologia de ponta a metodologias pedagógicas inovadoras. Única plataforma brasileira de ensino adaptativo credenciada pelo Ministério da Educação (MEC) para o Guia de Tecnologias Educacionais – que identifica soluções tecnológicas capazes de melhorar a qualidade do ensino brasileiro –, em sua trajetória a Geekie alcançou mais de 5 mil escolas públicas e privadas de todo o país, impactando cerca de 12 milhões de estudantes.
Entre as certificações mais relevantes, a empresa destaca: WISE 2016 (Qatar Foundation), TOP Educação (Revista Educação, categoria software educacional mais lembrado do mercado), Empreendedor Social Brasil (Folha de S. Paulo e Fundação Schwab), Empreendedor Social Mundial (Fundação Schwab), Trip Transformadores e Empresas Mais Conscientes (Revista IstoÉ). A Geekie já contou com aporte de investidores de tradição na área educacional como família Gradin (por meio do fundo Virtuose), Fundação Lemann, Jorge Paulo Lemann (por meio do Fundo Gera), Arco Educação, além dos fundos, o norte-americano Omidyar Network e o japonês Mitsui & Co.
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